Saturday, December 03, 2005

Poetas malditos? Mal-lidos... – I –

Tanto temos ouvido ou lido sobre poetas malditos que, à esta altura, os ditos têm parecido mais ditados. Os feitos poéticos dos tidos, comumente têm aparecido no pós-morte. Quase todos morreram cedo, tiveram pouca chance de reconhecimento, foram figuras um tanto desajustadas ao seu tempo e ao seu meio e deixaram uma obra significativa que admirou e influenciou gerações futuras. Desta turma poderíamos citar Rimbaud, Lautréamont, Silvia Plath, Bukovski, etc. Também o nosso brasileiríssimo Torquato Neto, entre outros. O mundo do rock também forneceu muitos soldados para esta frente de gente grande, hoje limitados à imortalidade e imitados. A influência deles, aquecida pela mídia moderna, faz com que sejam seguidos e cultuados apaixonadamente. Já vi um um poeta que é “cover” de Charles Bukovski, conheço também muitos herdeiros de Arthur Rimbaud, mas: e daí!? Poetas que se vestem como poetas, que parecem poetas e que fazem o papel de poeta.
Confessadamente, tenho uma queda maior pelos poetas ditos mal-lidos, meio aparentados com os malditos, estes foram pessoas mais normais, que tiveram uma vida mediana, escreveram pouco, mas que também possuem uma obra significativa postada no escuro do semi-esquecimento da mídia. Poetas bissextos, dizem alguns. A este grupo poderíamos citar, como exemplo, Raul de Leoni, poeta carioca do início do século XX, autor de “Luz Mediterrânea, do qual apresentamos o poema abaixo. O escritor mineiro Campos de Carvalho também caberia aqui. Prometo, à medida do possível, trazê-los mais.


* * * * * * * * * * * * * * * *
MEFISTO

Espírito flexível e elegante,
Ágil, lascivo, plástico, difuso,
Entre as cousas humanas me conduzo
Como um destro ginasta diletante.

Comigo mesmo, cínico e confuso,
Minha vida é um sofisma aspiralante;
Teço lógicas trêfegas e abuso
Do equilíbrio da Dúvida flutuante.

Bailarino de círculos viciosos,
Faço jogos sutis de idéias no ar
Entre saltos brilhantes e mortais,

Com a mesma petulância singular
Dos grandes acrobatas audaciosos
E dos malabaristas de punhais...

Raul de Leoni – In: Luz Mediterrânea.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home