Monday, September 07, 2009

"Só Poetas Seguem Tristes..."

Longe de tentar adotar aqui o tom reclamão, como a frase acima do genial Itamar Assumpção pudesse sugerir, ou que é comum nos desabafos daqueles que tentam exercer a poesia, gostaria de aqui brindar os poetas que se reuniram no dia 29/08 no espaço "Conexão Geral" cedido pelos organizadores da Primeira Bienal do Livro de Curitiba para um sarau de poesia falada. Um sarau de poesia marginal, a poesia curitibana falada e desconhecida do grande público de leitores e de escitores e da imprensa, com seus respectivos crachás de escritores e de leitores de impresa de Bienal do Livro de Curitiba. Mas nem por isso menos poesia, quem esteve lá pode constatar que a musa deixou que a chamada "literatura-sem-vergonha", num encontro festivo com seus amantes, permitisse as palavras a mostrarem as calcinhas. Isso sim, não tem preço!


Apreço meu àqueles poetas que ousaram sair de suas casas naquele dia, que pagaram o imposto de dois reais enquanto os que os bem ditos escritores nacionais recebiam seus cachês e crachás e kits de crochê, para subir envergonhados no palco e envergar a sua voz com muita arte! É óbvio que a poesia independente curitibana é muito maior que a que marcou presença no sarau, grandes poetas que gostaria de ver não estavam lá, o que vimos foi apenas uma amostra significava. Mas foi muito bonito de ver!


Apesar deste evento específico do "sarau de poesia independente" na bienal não ter tido divulgação alguma pelo organizadores do evento, o que traduzimos como um "para não dizer que não falei das flores", agradecemos imensamente a este gesto de boa vontade, na abertura deste espaço aos poetas independentes de Curitiba. Sobretudo à figura carismática do curador Ricardo Peruchi, que também é poeta, e que soube conduzir com democracia a organização do sarau. Esperamos, torcemos e prometemos trabalhar para que a nossa bienal do livro de Curitiba volte, e que ao regressar continue simpática à poesia. Afinal pretendemos juntos construir um país de homens, de mulheres e de livros. E estes três, sem poesia, não têm sinceramente nenhuma graça.


Para finalizar deixamos aqui um estonteante poema de Iriene Borges, uma das belas poetas de Curitiba que, por motivo de força maior, não pode infelizmente estar presente no dia do sarau.



***



DELÍRIO DO MEIO DIA.


Há sol lá fora e não quero ir
A saia me estrangula pela cintura
e a bota esfolará o passo lerdo
pelo tornozelo esquerdo
Há um engasgo me esperando

Girassol, Náusea, Asfixia

Tenho sono... fastio dos modos humano
sem nenhum interesse na arte do improviso
Há serpentes e odaliscas ondulando sob o sol
Nunca soube distinguir os guizos
No sofá sob a colcha azul
sou a concha que verte o mar
Nas almofadas

Não quero ir
Um palmo de luz pela janela já embriaga
E estou certa de que esfolarei a retina
Nas asas finas de alguma fada amarela.


Poema de IRIENE BORGES.

Ilustração "Menina com fundo de flores" de Adara de Oliveira.

3 Comments:

Anonymous Vanda Garbuglio de Brito said...

...vamos construir um país de homens, de mulheres e de livros. E estes três, sem poesia, não têm sinceramente nenhuma graça...
parabéns Altair por colaborar com a construção deste país acrescentando a "graça" que sua poesia consegue adicionar!!!

3:24 PM  
Blogger Iriene Borges said...

Que honra.
Obrigada por dividir seu espaço.

10:16 AM  
Anonymous Anonymous said...

Altair,
Se isto for um poema de um "poeta de fundo de quintal de quitinete", esta que te escreve é uma prosista espermatozóide, que mal chegou ao óvulo. E olhe lá!
Gostei pacas. Escreva mais! E trate de publicar, sempre.

2:57 PM  

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