Sunday, March 12, 2006



A poesia difícil

Usar-se poeta nunca, e em nenhum lugar, foi oficina fácil. Não se sobrevive de poesia, o máximo que o vivente pode daí, se tiver coragem e talento, é fazer sobreviver à poesia. Lembro-me que Carlos Drummond de Andrade conseguiu fechar realmente um bom contrato de publicação de sua poesia, digamos lucrativo, quase aos 80. Manoel de Barros gastou quase 50 anos de poesia para que a imprensa descobrisse que ele era um poeta fascinante. Mas há outros inúmeros exemplos que aqui nos esquivamos de mostrar.
Ousar-se poeta, posto o exposto, é um ato de coragem. Os jovens (revolucionários e deslumbrados) normalmente têm mais arroubos poéticos. Talvez isto seja atribuído a uma certa tendência de acreditar-se que a poesia é o caminho mais fácil para acessar uma arte. Por isso existem poetas e poetas e poetas. Naus frágeis (não sabem que a musa é perdulária e infiel), a maioria dança.
Apesar disso, é comum ouvirmos na música (MPB principalmente) referências enaltecendo os poetas. Mas a palavra poeta tem um sentido dúbio, pois você pode usá-la para referir-se a quem você gosta e a quem você não gosta. No primeiro caso trata-se de uma pessoa especial, sensível, ou que pelo menos sabe expressar-se de uma forma concisa e com sentimento. No segundo caso você quer dizer que o sujeito é pateta, que vive no mundo da lua, um maçante, um dotado de blábláblás.
Já a "poesia", esta divina dama, é quase que sempre usada com boas e belas intenções. Se uma determinada obra de arte soa-nos inusitada, uma música, por exemplo, ou uma pintura, dizemos que ela é cheia de poesia. Uma vida sem poesia não é, normalmente, uma vida boa. Por isso, meus amigos, estejam atentos. Tentem gastar os seus tentos com a poesia!

1 Comments:

Blogger Marilda Confortin said...

Muito convincente esse final, Altair. Gastemos os tentos e os textos, pois!
Bom fim de semana

5:05 PM  

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