Saturday, March 25, 2006


“Um_Anjo_Com_Asas_De_Avião!”

Delícia!!! Poder devagar curtir o disco encontrado do Torquato, de fato um achado!!! Eis aí uma figura que esteve exposta durante os anos duros da ditadura, agitou o meio cultural do país com seus envolvimentos carnais com a tropicália, com contracultura, com a poesia concreta e afins. Este jornalista piauiense, compositor refinado, polêmico, poeta arguto e inovador que parecia, com outra linguagem, querer continuar a revolução iniciada pelo seu conterrâneo e também poeta Mário Faustino. Morreu cedo! Lembro que, quando criança, ouvi no rádio sobre a morte dele, nunca tinha ouvido falar em Torquato Neto (nome estranho) ali no sítio, mas fiquei impressionado: “...o poeta que se matara!” Pensei então: “agora vai ficar famoso!”, não ficou!
Passei então a me interessar por ele, coletar caquinhos, e pouco a pouco (ou numa canção, numa referência duma entrevista ou num retalho de jornal) eu fui montando esta figura fascinante que passei admirar, até que um dia, perambulando em Sampa, deparei-me com “Os Últimos Dias de Paupéria”, uma reunião dos textos de Torquato que a editora Max Limonad havia publicado. Então em tive em mãos as canções, os poemas, as fotos, os depoimentos dos amigos e, principalmente, os testemunhos que o próprio poeta deixou em sua extinta coluna “Geléia Geral”. Este livro é uma de minhas jóias, eu diria.
No disco podemos apreciar suas belas canções na voz de Gil, Nara Leão, Macalé e outros, como por exemplo: “Let´s play that!”, mas por enquanto ficamos aqui com um poema e uma materiazinha da coluna “Geléia Geral”. Um abraço.

COGITO

Eu sou como eu sou
Pronome pessoal intransferível
Do homem que iniciei
Na medida do impossível
Eu sou como eu sou
Agora
Sem grandes segredos dantes
Sem novos secretos dentes
Nesta hora
Eu sou como eu sou
Presente
Desferrolhado, indecente
Feito um pedaço de mim
Eu sou como sou
Vidente
E vivo tranqüilamente
Todas as horas do fim.
Torquato Neto

Pessoal intransferível

“Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, e estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada nos bolsos e nas mãos. Sabendo: perigoso, divino, maravilhoso.
Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, para quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.
E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. Adeusão.”
Torquato Neto

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Que belezura de homenagem, Altair.

3:39 PM  
Anonymous Anonymous said...

Muito chic poder ler Torquato aqui, Altair, uma raridade mesmo.
Muito bom o teu blog, bons textos, bom poemas, tudo de bom!
Parabéns.

Um abraço

Sandro.

5:14 PM  

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