Às bordas do paraíso próximo.
Hoje um breve vislumbre da obra de dois grandes artistas, representantes da dita arte sensual e que gozam da minha mais alta consideração; o primeiro é o pintor austríaco Egon Schiele (1890-1918), admirador e aluno do então famoso Gustave Klimt, às vezes referenciado no expressionismo alemão e que foi dizimado pela febre espanhola, juntamente com sua jovem esposa Edith.
A importância deste jovem pintor está hoje ligada às manifestações que às liberações sexuais que as idéias de Freud provocaram nos artistas e na sociedade de então. Pintava escandalosamente o rapaz, um experimentalista que compulsivamente traçava o que lhe estava mais próximo, caras & corpos seus e de sua esposa mulher na maioria das vezes, o que lhe causou um posterior isolamento de seu trabalho, meio que condenado à arte maldita ou à arte erótica. Arte que, aos olhos da nossa boa sociedade, é menor. Curiosamente o retrato que temos aqui é a irmã do pintor, pudorosamente trajada e sem corpo.
O segundo é o poeta português David Mourão Ferreira, que foi também professor da Faculdade de Letras de Lisboa, conhecido internacionalmente por sensualmente cantar inquietações do amor, a emoção maior que, à mira dos críticos, é quase sempre condenada à falta de arte ou à arte fácil and so on.
É como se arte tivesse muito coisas a fazer do que trasladar emoções. Mundo às vezes muito triste este!
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Penélope
Mais do que um sonho: comoção!
sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.
E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.
Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
David Mourão Ferreira