Monday, May 08, 2006

MALDITAS (OS) ou MAL-LIDAS (OS)? - II

A poesia da carioca Gilka (da Costa de Melo) Machado (1893-1980) passou, ao longo dos anos, aos olhos da crítica e dos literatos quase sempre associada à libertinagem ou ao estigma de uma poesia menor, ou a uma poesia de amor escandaloso ou mesmo de uma poesia erótica ou estritamente feminina.
Já em 1922, enquanto o mundo “cult” do país respirava e transpirava a dita “Semana de Arte Moderna”, Gilka, que já havia publicado antes, editava o seu “Mulher Nua”, um livro arrojado demais para uma dama da época, mas que aos poucos foi angariando admiradores. E em 1928 ela retornava com “Meu Glorioso Pecado”, quatro anos depois uma antologia de seus poemas era publicada na Bolívia e, em 1933, através de concurso na revista carioca “O Malho” a poeta alcançou a glória, sendo eleita pelos leitores como “A maior poetisa do Brasil”.
A partir daí, a esposa (e depois viúva) do poeta Rodolfo Machado, de quem herdou o sobrenome, começou a ser um pouco mais notada pelo mundo dito cultural e, aos poucos foi tomando espaço dentro do enquadramento que lhe deram como “a poetisa mais representativa do simbolismo”. Apesar disto, esta distinção de “simbolista” não lhe dava (ainda hoje muito raramente lhe dá) o direito de constar na pequena lista de autores simbolistas estudados na literatura escolar.
Seus poemas, entretanto, continuaram a ser produzidos e publicados e, apesar das dificuldades financeiras da autora e das poucas edições, saía em 1978 a publicação de “A Poesia Completas de Gilka Machado”, um livro difícil de ser encontrado. Seus leitores, contrariando a impedância a que está submetida sua poesia, continuam crescendo dia a dia, à margem do mercado editorial e dos conselhos editoriais que os cercam. Viva a Gilka!!!


Ser Mulher ...

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida; a liberdade e o amor;
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior...

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor...

Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...

Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Gilka Machado In: Cristais partidos (1915).

3 Comments:

Blogger Marilda Confortin said...

Beleza Altair! Gostei dela. Merece ir para a lista.
Beijo poeta

2:21 PM  
Anonymous Anonymous said...

oi altair querido!!!

que delicia saber que você visita meu blog, estou mega-ultra-power-plus feliz :))))))

te passei um email pro seu @gmail mês passado e vc nem respondeu (conteúdo fraquinho né? ... rs)

mil beijos... te adoro!

10:41 AM  
Anonymous Anonymous said...

Thaks, my precious ones!!!

3:38 PM  

Post a Comment

<< Home