Sunday, March 26, 2006


*** FELIZ ANIVERSÁRIO!!! ***


SINTOMAS DE AUSÊNCIA TUA

Chove lá fora
E é inverno no meu peito
A tua ausência desenha
Um mundo cinza
O teu contágio latente
Manifesta
E garimpo o teu perfume
Rarefeito...
Tudo em mim te cobra
E te precisa.
Meu coração de válvula
Sangrenta
Me impregna na mente
Me ordena:
“Te procurar feito louco
Entre as car!”
Me põe na rua
Atropelando medos
Pra te encontrar
No sul da madrugada
Nua de todo e qualquer
Que nos separe
Ardendo em febre
E o amor preso entre os dedos.
Altair de Oliveira
In:Curtaversagem ou Vice versos-1988

“Querido poema, hoje você completa 21 anos, espero que agora tenhas alcançado a maioridade! Você tem sido um bom camarada durante estes anos todos, isto não posso negar. Me acompanhastes nos bares, tragaste comigo o mais amargo das horas, me acompanhaste nos claros e escuros, enfim, estivestes também no mais longe de mim. E sou lhe muito grato por isto. Eu não pude te cumprir grandes alegrias, me perdoa...tá!? Desculpe-me também se te esqueci nos meus poucos momentos importantes, isto não te fez menos importante, ao contrário, te considero um maioral. Vou agora dar “Parabéns para você!” para você e para mim: oba! nós não morremos ainda! Parabéns. E como diria Joyce: ...te amo, amo teu guarda-chuva!”

Saturday, March 25, 2006


“Um_Anjo_Com_Asas_De_Avião!”

Delícia!!! Poder devagar curtir o disco encontrado do Torquato, de fato um achado!!! Eis aí uma figura que esteve exposta durante os anos duros da ditadura, agitou o meio cultural do país com seus envolvimentos carnais com a tropicália, com contracultura, com a poesia concreta e afins. Este jornalista piauiense, compositor refinado, polêmico, poeta arguto e inovador que parecia, com outra linguagem, querer continuar a revolução iniciada pelo seu conterrâneo e também poeta Mário Faustino. Morreu cedo! Lembro que, quando criança, ouvi no rádio sobre a morte dele, nunca tinha ouvido falar em Torquato Neto (nome estranho) ali no sítio, mas fiquei impressionado: “...o poeta que se matara!” Pensei então: “agora vai ficar famoso!”, não ficou!
Passei então a me interessar por ele, coletar caquinhos, e pouco a pouco (ou numa canção, numa referência duma entrevista ou num retalho de jornal) eu fui montando esta figura fascinante que passei admirar, até que um dia, perambulando em Sampa, deparei-me com “Os Últimos Dias de Paupéria”, uma reunião dos textos de Torquato que a editora Max Limonad havia publicado. Então em tive em mãos as canções, os poemas, as fotos, os depoimentos dos amigos e, principalmente, os testemunhos que o próprio poeta deixou em sua extinta coluna “Geléia Geral”. Este livro é uma de minhas jóias, eu diria.
No disco podemos apreciar suas belas canções na voz de Gil, Nara Leão, Macalé e outros, como por exemplo: “Let´s play that!”, mas por enquanto ficamos aqui com um poema e uma materiazinha da coluna “Geléia Geral”. Um abraço.

COGITO

Eu sou como eu sou
Pronome pessoal intransferível
Do homem que iniciei
Na medida do impossível
Eu sou como eu sou
Agora
Sem grandes segredos dantes
Sem novos secretos dentes
Nesta hora
Eu sou como eu sou
Presente
Desferrolhado, indecente
Feito um pedaço de mim
Eu sou como sou
Vidente
E vivo tranqüilamente
Todas as horas do fim.
Torquato Neto

Pessoal intransferível

“Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, e estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada nos bolsos e nas mãos. Sabendo: perigoso, divino, maravilhoso.
Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, para quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.
E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. Adeusão.”
Torquato Neto

Sunday, March 12, 2006


BIMICROBIOGRAFIA DE GRANDES

Coletei os 2 pequenos textos abaixo porque falam de
2 grandes escritores brasileiros, mortos há poucos
anos, responsáveis por criar em silêncio uma prosa
bastante revolucionários à nossa literatura. O meu contato com o trabalho dos dois foi bastante prazeroso, por isso eles passaram a ser autores que recomendo com veemência.

CAMPOS DE CARVALHO
“Walter Campos de Carvalho, escritor mineiro radicado em São Paulo, é figura tão curiosa quanto as personagens que criou. Autor de pelo menos quatro pequenas obras-primas da literatura brasileira - A lua vem da Ásia (1956), Vaca de nariz sutil (1961), A chuva imóvel (1963) e O púcaro búlgaro (1964) -, há mais de trinta anos decidiu abandonar a literatura, talvez por enfado, talvez por se sentir desiludido com nosso insípido mundo editorial. Segundo suas próprias palavras, uma altercação com o editor Ênio Silveira teria sido a gota d’água que o levara a optar pelo auto-exílio.”

MURILO RUBIÃO
“Eugênio Murilo Rubião nasceu em Carmo de Minas. Fez seus primeiros estudos em Conceição do Rio Verde e conclui-os depois em Belo Horizonte. Ingressou na Faculdade de Direito, formando-se em 1942. O jornalismo sempre o seduziu, tornou-se redator da Folha de Minas e diretor da Rádio Inconfidência. Em 1947, lançou seu primeiro livro de contos, O ex-mágico, que não teve maior repercussão na época. A partir de então, ingressou no mundo da política, sempre como assessor. Em 1951, ocupou a função de chefe de gabinete do governador Juscelino Kubitschek. Entre 1956 e 1961, exerceu o cargo de adido cultural do Brasil na Espanha. Em 1966 foi designado para organizar o suplemento literário do jornal O Estado de Minas Gerais, que se tornou um dos melhores órgãos de imprensa cultural já surgidos no país. A publicação de O pirotécnico Zacarias, em 1974, deu súbita fama a Murilo Rubião. Nos anos subseqüentes, a sua exígua obra passou a ser vista como a mais significativa manifestação da literatura fantástica no Brasil.”


A poesia difícil

Usar-se poeta nunca, e em nenhum lugar, foi oficina fácil. Não se sobrevive de poesia, o máximo que o vivente pode daí, se tiver coragem e talento, é fazer sobreviver à poesia. Lembro-me que Carlos Drummond de Andrade conseguiu fechar realmente um bom contrato de publicação de sua poesia, digamos lucrativo, quase aos 80. Manoel de Barros gastou quase 50 anos de poesia para que a imprensa descobrisse que ele era um poeta fascinante. Mas há outros inúmeros exemplos que aqui nos esquivamos de mostrar.
Ousar-se poeta, posto o exposto, é um ato de coragem. Os jovens (revolucionários e deslumbrados) normalmente têm mais arroubos poéticos. Talvez isto seja atribuído a uma certa tendência de acreditar-se que a poesia é o caminho mais fácil para acessar uma arte. Por isso existem poetas e poetas e poetas. Naus frágeis (não sabem que a musa é perdulária e infiel), a maioria dança.
Apesar disso, é comum ouvirmos na música (MPB principalmente) referências enaltecendo os poetas. Mas a palavra poeta tem um sentido dúbio, pois você pode usá-la para referir-se a quem você gosta e a quem você não gosta. No primeiro caso trata-se de uma pessoa especial, sensível, ou que pelo menos sabe expressar-se de uma forma concisa e com sentimento. No segundo caso você quer dizer que o sujeito é pateta, que vive no mundo da lua, um maçante, um dotado de blábláblás.
Já a "poesia", esta divina dama, é quase que sempre usada com boas e belas intenções. Se uma determinada obra de arte soa-nos inusitada, uma música, por exemplo, ou uma pintura, dizemos que ela é cheia de poesia. Uma vida sem poesia não é, normalmente, uma vida boa. Por isso, meus amigos, estejam atentos. Tentem gastar os seus tentos com a poesia!