Monday, December 19, 2005



AMO ELA!!!

Esta é uma passagem da autobiografia da russa Lou Andréas Salomé (foto), falando aí sobre o poeta tcheco Rainer Maria Rilke, de quem foi muito ligada. Lou foi uma mulher fascinante: bela, inteligente e livre. Profundamente humana marcou profundamente a vida de figuras importantes como Nietzsche, Rilke e Freud. Uma meninona! Uma mana demasiadamente humana... Demais, amo ela!


“Se fui durante anos tua mulher, assim o foi porque tu foste para mim pela primeira vez o real, corpo e homem uno, indiscernível, fato indubitável da vida mesma. Palavra por palavra eu tinha podido confessar-te o que me disseste como confissão de amor: “Somente tu és real”. Foi assim que nos tornamos esposos muito antes de nos tornarmos amigos, e tornamos-nos amigos mais por bodas igualmente subterrâneas do que pela escolha. Em nós não havia duas metades que se buscavam: nossa totalidade reconheceu-se, surpresa, fremente, em uma incrível totalidade. E assim fomos irmãos, mas como de tempos remotos, antes do incesto tornar-se sacrilégio.” – Lou Andreas Salomé in: “Minha Vida”

Arte, manhas, arte, manos...

Neste belo “Empório Literário”, o poeta cuiabano Antônio Sodré compilou os frutos de 30 anos de produção poética, e isso sim é um grande feito!!! Biscoito fino. Parabéns meu bardo, é muito bom saber que a poesia não te abandona nunca, nunquinha!

Os desenhos da capa (belíssima!) é do mano Adir Sodré, pintor genial do centro da América do sul. Orgulho grande de ter também um desenho dele enriquecendo a capa do meu “Embebedário”.


Sonhostantostontossonhos

“Os sonhos sonhei-os todos
num sonhar desesperado
até me perder sonhando
imerso no meu passado

recordações ilusórias
quimeras imagens tolas
gravadas no inconsciente
‘prá’ no presente repô-las!

Suscitou-me pesadelos
Assanhando os meus cabelos
Oh! Era melhor não vê-los
Soaram em vão meus apelos!

Mas tem sonhos tão gostosos
Dá vontade de come-los
Suaves vôos de aves
Caravanas de camelos
Transportando em seus alforjes
Doces, balas, caramelos!

Flutuando...flutuando...flutuando
Feito espuma colorida
Que chego a pensar que a vida
É um sonho em movimento.

Antônio Sodré

Saturday, December 17, 2005


Raduan Nassar

Eis aí a careta do grande autor de " Lavoura Arcaica", de "Um Copo de Cólera" da da novela "Menina a Caminho". Um escritor inebriante, portentoso mesmo!!! Uma grande pena que tenha deixado de escrever...
Esta é uma homenagem para a Aninha, muito fã dele (o Raduan), minha amiga muito do coração! Ana, combinamos assim: ele está rindo procê, ok!?

Saturday, December 03, 2005


NOTHING GOLD CAN STAY

“Nature´s first green is gold,
Her hardest hue to hold.
Her early leaf´s a flower;
But only so an hour.
Then leaf subsides to leaf.
So Eden sank to grief,
So dawn goes down to day.
Nothing gold can stay.

Robert Frost.





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Eis aí um poeta de quem gosto muito, o americano Robert Frost.
Apesar de ter sido contemplado 4 vezes com o “Pulitzer Prize” para poesia, ele nunca agradou muito à crítica com seus poemas: normais demais, musicais demais, bucólicos demais... Mas, para as pessoas que o liam, ele era demais!!! Tinha leitores como ninguém, era aclamado, declamado e cantado. Citado nos filmes e recitados nas escolas. Políticos usavam seus ditos quando queriam fazer bonito. Também eu me encantei com os escritos dele quando tomei contato. Problema que nunca achei um livro de Frost traduzido para o português, poucos poemas esparsos sim. Durante anos tentei traduzir alguns poucos poemas dele, mas desisti para não sacrificar a musicalidade. Que bom se eu tivesse sido influenciado por ele!!!
Poetas malditos? Mal-lidos... – I –

Tanto temos ouvido ou lido sobre poetas malditos que, à esta altura, os ditos têm parecido mais ditados. Os feitos poéticos dos tidos, comumente têm aparecido no pós-morte. Quase todos morreram cedo, tiveram pouca chance de reconhecimento, foram figuras um tanto desajustadas ao seu tempo e ao seu meio e deixaram uma obra significativa que admirou e influenciou gerações futuras. Desta turma poderíamos citar Rimbaud, Lautréamont, Silvia Plath, Bukovski, etc. Também o nosso brasileiríssimo Torquato Neto, entre outros. O mundo do rock também forneceu muitos soldados para esta frente de gente grande, hoje limitados à imortalidade e imitados. A influência deles, aquecida pela mídia moderna, faz com que sejam seguidos e cultuados apaixonadamente. Já vi um um poeta que é “cover” de Charles Bukovski, conheço também muitos herdeiros de Arthur Rimbaud, mas: e daí!? Poetas que se vestem como poetas, que parecem poetas e que fazem o papel de poeta.
Confessadamente, tenho uma queda maior pelos poetas ditos mal-lidos, meio aparentados com os malditos, estes foram pessoas mais normais, que tiveram uma vida mediana, escreveram pouco, mas que também possuem uma obra significativa postada no escuro do semi-esquecimento da mídia. Poetas bissextos, dizem alguns. A este grupo poderíamos citar, como exemplo, Raul de Leoni, poeta carioca do início do século XX, autor de “Luz Mediterrânea, do qual apresentamos o poema abaixo. O escritor mineiro Campos de Carvalho também caberia aqui. Prometo, à medida do possível, trazê-los mais.


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MEFISTO

Espírito flexível e elegante,
Ágil, lascivo, plástico, difuso,
Entre as cousas humanas me conduzo
Como um destro ginasta diletante.

Comigo mesmo, cínico e confuso,
Minha vida é um sofisma aspiralante;
Teço lógicas trêfegas e abuso
Do equilíbrio da Dúvida flutuante.

Bailarino de círculos viciosos,
Faço jogos sutis de idéias no ar
Entre saltos brilhantes e mortais,

Com a mesma petulância singular
Dos grandes acrobatas audaciosos
E dos malabaristas de punhais...

Raul de Leoni – In: Luz Mediterrânea.